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Dedico este texto à memória dos que partem, e pelo fato de partirem levaram um pedaço do meu coração e àquelas que partiram em prol de condições mais justas de vida e trabalho…
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Eu sempre estranhei essa coisa fenomenológica da morte… Geralmente na hora da morte ressuscitam as bondades do partido; ninguém gosta de sujar a imagem do sujeito com sua humanidade, suas dores, tristezas, ambições, pedras… O curriculum mortis só tem recheios etéreos. Me gustan los humanos y la doce tragédia de la humanidad. Volto à reflexão do Poeta: […] Ele sabe do que somos formados; […] A vida do homem é semelhante à relva; ele floresce como a flor do campo, que se vai quando sopra o vento e nem se sabe mais o lugar que ocupava.
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Chamam-me atenção as placas das funerárias, os cartazes de propagandas delas, os novos cemitérios de estilo jardinesco .Dispostos a ganhar os tostões dos vivos, nos seus panfletos se põem a pintar retratos de uma vida feliz, geralmente uma família – talvez uma pós vida – para conquistar clientes, na sua maioria conscienciosos da sua partida, ou ter no cemitério uma paisagem exuberante de jardins silenciosos no meio das selvas de pedra. Sobre os retratos, quem quer comprar tristeza, mesmo sabendo que de fato se trata para a hora dela, a medida preventiva?
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Hoje vi um carro funerário quando caminhava para o trabalho. Nele estava adesivada a seguinte frase: “Seu melhor amigo na hora da dor”… Conclusões a expensas do leitor.
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Lembro-me agora do meu amigo Rubem, ele diz que muita gente fala que gostaria de ir para o céu, mas no final das contas, ninguém quer morrer. Um outro amigo, Nietzsche, dizia: “Somente onde há sepulturas há também ressurreições” . Pergunto eu: pode germinar uma semente que não morre? Vida contraditória essa nossa!